Sam DiPiazza, executivo-chefe mundial da PricewaterhouseCoopers, está convencido que num futuro não muito distante não haverá mais um padrão americano de contabilidade. "As companhias americanas vão adotar o IFRS [o padrão internacional de informações financeiras, adotado pela União Européia], ele será o novo sistema."
Há alguns anos, essa declaração pareceria loucura. O padrão americano, conhecido como US Gaap, reinava absoluto, a versão contábil do poderio econômico e político americanos. Mas os escândalos empresariais no início da década corroeram o mito da superioridade americana nessa área. A resposta do IFRS é colocar "princípios" no lugar de regras - e há muitas regras contábeis nos EUA - que podem ser manipuladas.
DiPiazza esteve no Brasil na semana passada por dois dias, em reuniões com executivos da PwC de várias partes do mundo para discutir questões globais e também para aprender mais sobre o Brasil, um dos países de maior crescimento dentro do grupo. A recente reforma da parte contábil da Lei das S.A. estava nas discussões. A seguir, trechos da entrevista:
Valor: Por que o sr. escolheu o Brasil para essa reunião?
Sam DiPiazza Jr.: Encaramos país, e a América Latina, como um enorme mercado para o futuro, e aqui podemos falar com propriedade sobre as coisas que estão acontecendo na região.
Valor: O que o país pode esperar da convergência contábil?
DiPiazza: Nos últimos cinco anos houve avanços significativos no mundo em governança empresarial. Os conselhos de administração estão desempenhando melhor o seu papel, os reguladores estão muito mais afinados, os auditores estão-se comportando de maneira diferente. O Brasil fez um bom trabalho nesse sentido, houve foco nas questões certas, e agora a boa notícia para as companhias é que as regras contábeis começaram a convergir. Essa convergência vem acontecendo muito mais rápido que eu imaginei. Mais de cem companhias hoje usam o IFRS. Para o Brasil, isso representa um enorme passo que coloca o país mais próximo da comunidade global.
Valor: O sr. acha que isso pode ajudar o país a receber o grau de investimento?
DiPiazza: Se você olhar para os dados de crescimento da economia, a responsabilidade fiscal, o controle da inflação, verá que o Brasil fez um bom trabalho nos últimos anos. O mercado de capitais brasileiro tem hoje mais peso no índice [de mercados emergentes] do [banco] Morgan Stanley do que a China. O Brasil é grande demais para estar fora das regras globais. O IFRS dará mais confiança para os investidores estrangeiros. Não é uma crítica aos padrões brasileiros, mas as pessoas confiam no que entendem. Para ter grau de investimento, o Brasil precisa fazer parte desse processo.
Valor: E quando os Estados Unidos entram nesse barco?
DiPiazza: Há cinco anos eu pensava que isso levaria pelo menos 20 anos. Eu sou o único representante dos auditores no comitê de supervisão do Iasb [o conselho de padrões internacionais de contabilidade, responsável pelo IFRS]. Eu não estava certo do caminho que os Estados Unidos tomariam. Mas nos últimos anos os reguladores americanos reconheceram que se o resto do mundo está adotando o IFRS, então o US Gaap não é necessariamente a melhor resposta. No ano passado caiu a regra que exigia a reconciliação do IFRS para o US Gaap. Agora estuda-se permitir que as companhias americanas usem o IFRS. Eu estou convencido de que num futuro não muito distante não haverá mais um padrão americano. As companhias americanas vão adotar o IFRS, ele será o novo sistema.
Valor: Quanto tempo levará?
DiPiazza: Acho que pode acontecer em cinco, sete anos. A União Européia conseguiu que todos os países adotassem o IFRS em cinco anos, acho que os EUA são espertos o bastante para fazer o mesmo.
Valor: É uma grande mudança...
DiPiazza: Mas é uma mudança muito importante porque une o mundo inteiro sob uma plataforma comum de informações financeiras.
Valor: Mas há ainda pontos polêmicos, como "valor justo".
DiPiazza: Todos os países que entraram nesse processo de convergência enfrentaram alguns problemas. Pode ter sido a contabilidade de fundos de pensão, de aquisições, de fundo de comércio... O Brasil precisa encontrar seus próprios mecanismos para adaptar-se ao balanço global. O valor justo não é um tema exclusivo do IFRS, há um componente de valor justo nos padrões americanos. A maior parte do Reino Unido há muito tempo lida com essa questão. Não acho que seja um assunto relativo à convergência, mas sim se o valor justo é a coisa certa a fazer; é o que as pessoas perguntam, quais as vantagens e desvantagens. E nossa visão é que o nem todo ativo precisa ser trazido ao valor justo. Mas alguns ativos, particularmente ativos financeiros, precisam. É um desafio, mas num mundo cada vez mais sofisticado com relação a instrumentos financeiros, usar o custo histórico não é o melhor para o investidor.
Valor: O que o sr. espera das eleições americanas?
DiPiazza: São candidatos com propostas bem diferenciadas, mas não acho que muita coisa vá mudar nos próximos 12 meses. A economia americana vai passar por tempos difíceis.
SITE: http://www.fenacon.org.br/pressclipping/2008/marco/14/ve140308b.htm
terça-feira, 23 de setembro de 2008
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